quinta-feira, setembro 26, 2013

Sobre compor

A falta que me faz escrever
É dilacerante.
E fica mais impossível à medida em que o tempo passa.
Não dá pra esquecer mas, se ficar muito tempo sem, a gente acaba caindo.
Tem quer recomeçar do zero.
É sentimental e orgulhoso.
As palavras sabem quando são amadas.  Quando são abandonas também.
E é preciso (re)conquistar a confiança delas a cada frase.
Têm orgulho de si e de seu ofício.
É apaixonante.
Escrever e amar são,  em suma,  a mesma coisa.  Ler também.
É viciante.
A gente quer mais, mais, mais e mais.  E a vida leva pra longe, deixa tudo em caixas lacradas no armário.
E é preciso lutar contra a vida, entrar no sótão escuro (em noite de chuva, sozinho em casa), abrir o armário, tirar todas as caixas e encontrar as letras.
Uni-las novamente.  Unir-se a elas. Fazer-se um só com as palavras.
Não deixá-las morrer.
Porque é suicídio.

segunda-feira, junho 10, 2013

Sono e cobertor

É preciso ser um pouco grande para entender a vida.
Observe a morte, meu amigo, e a vida quitará sua dúvida.
Quem vê a morte pela janela, tem a vida batendo à porta.
Sorri para a morte, e a vida lhe será discípula.
Pois a vida nada mais é do que a morte em retalhos. E ao fim da vida você terá um cobertor de retalhos para se cobrir do frio deste mundo. E a morte, canção de ninar, vai embalar seus sonhos. Escolhe portanto as estampas de seus retalhos, junta bem firme linha e agulha, aperta os laços, prende os nós, que a vida se esvai num pulo. E o sono vem depois da diversão.
Dorme assim em paz, que entendendo a morte se entende a vida.
Cuida que o sono vem e teu cobertor deve estar completo.

quarta-feira, março 13, 2013

Bilhetinho pra não ler

Não se prenda nesses versos, meu amor,
Que ando cansada demais pra ser feliz.
E o tempo passa, e a vida escorre
E, cada vez mais, menos eu posso escrever.
Não posso dizer o quanto lhe quero,
A falta que sinto,
A saudade que você deixou antes mesmo de chegar.
Porque não há tempo para nós,
Não há tempo pra dizer ou predizer.
Não há tempo entre nós.
E morro aos pouquinhos pra sobreviver.

segunda-feira, fevereiro 18, 2013

Dentro e fora

Anoitece em BH.
Ou na vida.
Não sei ao certo.
Ando cansada de um monte de coisas. Cansada de extremos.
Gente que passa correndo, ocupada demais pra ver o sofrimento vizinho;
Gente que se importa demais e não pede licença pra opinar;
Gente que sofre demais e não mede esforços pra ter qualquer dose da dó de qualquer um.
De tempos em tempos a gente cansa de tudo.
A verdade é que a fadiga, o cansaço, apesar de discriminados, são necessários.
Pra gente não perder o tempo de recomeço.
Drummond disse dia desses que os 365 dias do ano são a exata medida a ser atingida antes da exaustão.
O dia também é meio assim, precisa se esconder num quarto escuro pra saber brilhar.
A gente é também um pouco assim, precisa cansar das pessoas, ficar sozinho, pra se lembrar que precisa das pessoas por perto.
É um ciclo meio estranho mas faz todo sentido do mundo.
Pelo menos para minha cabecinha de menina.