segunda-feira, dezembro 17, 2012

Boas Novas de um choro

Menino de vento, olha só você aí!
Quem é você, menino? - pergunta o mundo a sorrir.
Rocha ou arcanjo. - suspeitam seus pais.
Se for rocha, pode ser bem alta e pular lá de cima!!
Talvez então descubra asas!
Mas quem tem asa é anjo e não pedra!
E o que é o arcanjo senão um ano de arco e flecha?
Um anjo forte você pode ser.
Mas, se for forte, então é pedra.
E, se for pedra, trem que ser pedra de quê!
Pedra de quê, menino?
Pedra de rio, castelo ou estátua?
Estátua é pedra e não anjo.
Pedra no sapato de tristeza desse mundo.
Guardião do sorriso da gente.
E guardião é arcanjo, não pedra.
Olha, menino, seja o que for, você será o que quiser!
E pode ser qualquer coisa nesse mundo!
Só não pode esquecer: seja o que for, você é muito benvindo!

quarta-feira, dezembro 12, 2012

Choro em botão

Rosa, florzinha de pano
no jardim do som amigo,
vai florir menino anjo,
entalhar sonho de pedra
no seu ventre de sorriso.

E enquanto o mundo gira,
a bela flor no ventre gera
um amigo pro marujo
saber tocar um barco à vela.

Mãe, por quê que a gente ama?
Pai, tem bicho embaixo da cama!
Mãe, quem você vê no espelho?
Posso ser também?
Posso ser alguém?

Pai, me leva no festival?
Mãe, não volta pro hospital!
Pai, quem você vê no espelho?
Posso ser também?
Posso ser alguém?

E enquanto o mundo gira,
a bela flor no ventre gera
um afago, um colo amigo
pra deitar o dia dela

Mãe, o que é conselho e quem é Mercês?
Pai, por que ele chama Juarez?
Quem, afinal, eu verei no espelho?
Posso ser alguém?
Posso escolher quem?

sábado, novembro 17, 2012

Filha do Céu



Aquele menino de quem falei um dia, trouxe uma estrela pros lados de cá.
E fui até o papa só pra ver meu amigo!
Na esperança de, quem sabe, ver também o pedaço de céu que anda com ele.
E lá estavam todos!
Na Praça do Céu, encontrei o papa, o menino, a estrela, um Som cheio de Imaginação... E muitas outras figuras.
Suave e  singela, é assim a estrela, o pedacinho de céu que foi morar com o menino.
Ou terá sido o menino que foi morar no céu só por causa da estrela?
É. Acho que foi.
E sabe o que acontece quando menino e estrela se encontram no céu (com diamantes)?
Nascem anjos de menina!
E ela também estava lá.
Como eu sabia que estava na Praça do Céu?
Oras! Estavam lá o papa, o menino, a estrela e um anjinho de menina!
Onde mais eu poderia estar?!
E essa estrela, vou contar um segredo, veio morar aqui na terra
só pra trazer pra gente ciscos dos diamantes lá de cima.
E quando ela acorda e abre os bracinhos...
o chão fica cheio de brilho celeste!
E por onde ela passa as cores pulam de alegria!
Porque essa estrela é doce como o sonho
e faz sonhar o menino, o anjinho e quem mais se aproxima dela.

segunda-feira, outubro 15, 2012

Sol de gentil presença

Porque você dá graça a (quase) tudo!
Sei lá, é Verão o tempo inteiro.
Até a dor morre de rir de você lá.

Se um dia alguém fez que não via,
céu de chumbo nos seus olhos,
ou disse até que não seria, que não valia,
calou sua voz, desfez seu nó,
Só ria.

Deixa a onda levar a lembrança,
o rancor desse alguém,
que o tempo passou e te fez mais criança,
mostrou o tamanho que sua alma tem.

Seu fruto é doce e terno que só.
Deixa nascer esse sol, deixa brilhar meio dia
que o sol dessa hora não lembra da história
da lua falando que o sol não viria.

E raiou! Partiu o céu no meio e a terra se abriu!
E é dia todo dia, o sol de você só se põe
a aprontar a estréia da manhã que será.

Porque você dá graça a (quase) tudo.
Sei lá, todo mundo se abraça o tempo inteiro
E, no final, não se fecham as cortinas.

sexta-feira, outubro 12, 2012

Um grito (como aquele)

É, foi assim que aconteceu.
Você chegou por acaso,
sem pretensão nenhuma.
E ficou. Te respirei naquela hora
E depois dela muitas outras horas.
Só inspiração.
Em momento nenhum expirei você,
em momento nenhum você saiu de mim.
Desde aquele dia você vai onde eu vou.
Porque eu preciso dos meus pulmões
e eles só vão onde você estiver
e têm a forma que você der a eles.
O ar em mim tem a cor da sua alma.
A alma em mim tem o som da sua voz.
A voz em mim é muda por fora e grita por dentro,
porque você não sabe que mora aqui.
Nem vai saber.

quinta-feira, outubro 11, 2012

Papo de passarinho

Exatamente como ele disse.
Quando te conheci, além de belo você era livre.
E hoje te vejo abraçado à gaiola
e nem reza brava te tira daí.

Falei várias vezes do mundo lá fora
e nem pra olhar pr'outro lado você se esforçou.

Eu durmo e acordo sonhando em voar
você dá mil motivos pra rastejar.
Eu falo das asas que você tem,
você com esse papo de cruz pra levar.

Mas pior que isso tudo ainda é ver
que o homem mau que te enjaulou foi você.

sexta-feira, setembro 28, 2012

O olhar sobre um ipê

Enquanto aguardo o florescer,
morro semente, nascem raízes,
nasce um broto de qualquer coisa que serei (ou já sou?).
E cresce.
Cresce em mim qualquer projeto de algo grandioso.
Serei flor ou árvore?

Serei o que, ainda semente, vocacionava ser,
serei todo o potencial que a semente desconhecia ter.

Há quem passe pelo ipê e veja um belo cenário:
pássaros aninhados, troncos maduros, flores, folhas e sementes nos galhos e no chão;
algumas experiências de vida espalhadas ao vento e à terra;
e outras guardadas para si, presas em dedos de árvore.

Mas há também quem passe pelo ipê e veja galhos e troncos nus
restos de pétalas, galhos e folhas pisados num chão sujo.

Há que se perdoar as visões pessimistas,
olhos de sementes que ainda não puderam morrer,
não sabem a delícia de renascer broto de grandeza.

segunda-feira, setembro 24, 2012

Saudações

Aquelas peças que a vida nos prega...
É preciso amar a arte da vida, sabe?
Afinal, quem mais nos leva do pranto ao riso
(e vice versa) em tão pouco tempo?
E que outro roteirista pensaria no enredo que ela tece a cada um de nós?

Entrelaça história, traz e leva personagens, faz o cenário e a iluminação...
E a trilha sonora!!!!
Maior artista que a vida não há.
Diretora, roteirista, cineasta, atriz, platéia!
Uma completa direção de arte.
E, no entanto, a gente só faz reverência à morte.
A vida, meu amigo, é quem faz da morte o protagonista que é.
A vida, e não a morte, é quem faz da sua vida um espetáculo.
Façamos parte do elenco.
 
 
 
Eu estava só pensando. Só que no mural do facebook. rs
Esse foi o "Bom dia" de hoje.
Associado ao tradicional "Bons dias, bons ventos para nós, bons ventos sempre chegam longe..."

sábado, setembro 15, 2012

Ofício Informal de Registro de Interesse (quase) Público

Uma das melhores coisas da vida é conhecer gente do bem.
Parecem velhos amigos que a saudade, disfarçada de alegria, traz de volta.
É bom reconhecer os amigos que Vinícius disse.
Aos novos amigos, tenho uma notícia importante:
Sou ternamente grata por atravessarem minha vida.
Ou, antes, por existirem!
Talvez nunca saibam, talvez nem imaginem,
mas só existindo vocês já fazem minha passagem (de som) pela terra valer a pena.
E depois que me viram então, acho graça em tudo!
Vocês são meio Midas, tornam precioso tudo o que tocam.
Ou olham, ou ouvem, ou dizem.
Dá um orgulho danado ser gente quando se descobre que vocês existem!
Obrigada por tudo. Obrigada por serem.
E obrigada, acima de tudo, por se lembrarem que são. Gente.
Ficam aqui minha gratidão, admiração e o documento oficial de admiradora, fã e discípula pública e perpétua de cada um de vocês.

Belo Horizonte, 29 de agosto de 2012.
Amanda Melo de Brito

Uma flor e seu amado pelo tempo

Eu hoje vi uma cena bem rara.
Um casal com tanto carinho nos olhos que Deus os livre de todo mal!
E me encheu a alma vê-los assim.
Há tanto que não vejo um casal tão cheio de admiração!
Admiração. Não desejo, nem respeito apenas.

Sentei-me ao lado dela que foi logo dizendo: ele está no palco!
E quando ele, enfim, apareceu...
Seus olhos buscaram e acharam sua flor em frações do menor tempo.
Sua flor estava ali, e por sua causa.

Achei tudo tão lindo que não quis comentar
para não perder a beleza natural.
A música, sempre fazendo história em mim, encheu todo o universo daquela hora.
Ao fim, a bela rosa e eu saímos em modices de menina.

E ele a buscava lá fora!
O amado desta Rosa saiu ao seu encontro.
Não buscou aplausos e sorrisos senão os dela.
Foi tudo tão lindo que me deixei ficar ali.
Olhei os dois desligando o mundo porque estavam juntos.

Não, não eram namorados recentes.
Dezessete ou dezoito anos juntos, não sei ao certo.
Mas amigos. Com aquele amor que não se vê por aí e uma admiração tão bonita!
Namorados há anos que acordam todo novo dia como se fosse o primeiro.


Escrevi este texto em setembro de 2011. Não me lembro o dia exato, e até me espantei por não ter anotado na folha do texto original. O enredo é verdadeiro, mais um fato marcante daquela noite cheia de boas surpresas. Eu tinha me esquecido que foi ali que vi o encantamento desses dois. Encontrei esse texto hoje (15/09/12), por acaso, numa pilha de cadernos. Quando vi o título me lembrei exatamente de como foi escrito e achei que já tinha publicado. Agora que transcrevi me lembrei porque tinha escolhido não publicar.

segunda-feira, agosto 27, 2012

Conselho de uma lâmpada (ou do gênio dela)

Você tem três desejos.
Ser feliz, ser alguém e ter um amor.
Percebe que o amor está entre os bens
enquanto a felicidade e o espelho coexistem como seres.
Deixa seu amor ser, não tente tê-lo consigo, tê-lo para si.
Permita que o amor seja com você, seja para você.
Deseje ser um amor.
Seja feliz, seja alguém se seja um amor.
E permita que o amor seja a si mesmo, seja você e seja o amor entre vocês.
Seja feliz com o amor,
Seja alguém com o amor
E seja um amor com o amor
Ainda que o amor não seja eu.

segunda-feira, agosto 20, 2012

Olhos fechados, um desejo, um sopro

Eu tenho ainda 22 minutos para ser feliz até o ano que vem.
Se eu pudesse fazer qualquer coisa no mundo, eu gastaria esse tempo com você.
Lá na fazenda, na varanda, e não ia pedir nenhum beijo, nem abraço, nem olhares fuzilantes.
Só duas cobertas, um céu cheio de estrelas, você e eu. E, talvez, duas canecas de cappuccino.
E seriam 22 minutos de quase silêncio completo.
Só suspiros, poucas palavras, alguns sorrisos e tudo muito bem entendido.
Depois de um dia agradável, muito riso e papo afora, sem fortes emoções,
esse seria o fim de aniversário perfeito.
E é assim que eu quero que seja.
Porque era assim que eu queria que fossem meus últimos 22 minutos para ser feliz.
Quem sabe no ano que vem?


Escrito no dia do meu aniversário, às 23:38h.

sexta-feira, agosto 17, 2012

Desejo ou segredo

Um dos maiores desejos dos últimos tempos é falar com você.
Se um dia você me olha,
Se um dia a gente se fala...
Se houver abraço...
Perco a ordem das coisas e tento manter a pose.
Talvez alguém de alma leve perceba
e será, sem dúvida, minha perdição!
Ai, se alguém vê e conta!
Que eu morro de amores, que eu vejo você,
que a pose cai na hora exata em que você vem.
Vão-se as palavras e o jeito.
Fico no chão, olhos fixos e ar preso,
coração rasgado e eu tento remendar sem que você veja.
Sem uma palavra sequer, religo os trapos de alma enquanto o mundo lê seu nome dourado bordado nos panos de mim.

Feito em 13/08/12 às 22:20h

Nau frágil

Talvez você não saiba o quanto resisti às ondas da ideia de amar você.
Talvez nunca saiba.
Evitei ser mais uma tripulante dessas esquadras.
Não quis ver você me vendo assim.
Me apaixonei pelos mesmos motivos que todas elas, mas sob formas diferentes.
E isso, meu amado, é o que importa.
Ou não. Pra você não importa.
E tentei não te amar mas, agora que me afoguei no mar de você,
sinto suas águas passarem por mim, me jogando pra qualquer canto seu,
sem nem notar que minha sentença se encerra na sua ressaca.
Morte ou vida, não importa, se pra você sou mais um marujo tentando domar suas ondas.
Mas não, sou um pescador de nada, que mal sabe nadar,
enfeitiçado pelo seu infinito azul.
Elas te amaram quando te viram vencer as embarcações,
eu te amei quando te vi beijar o sol.

sexta-feira, agosto 10, 2012

Confessionário

Deixa eu te contar um segredo:
Pego o celular pra te mandar mensagem todos os dias.
Aí me lembro que não tenho seu número.
Parece tão óbvio me ligar a você
que eu me esqueço que de você nem sabe quem sou.
Conversamos todos os dias, rimos juntos,
procuro você por aí, te acho. Disfarço.
Viro pra lá, faço que não vi, que não ligo. Eu ligo.
Você me liga todos os dias. Trocamos olhares, perdemos o foco.
Sou nós dois, lado a lado, toda noite. Sussurramos.
E o juízo me grita sua verdade de não ser. Você não sabe quem sou.
E me despeço sussurrando. E me desfaço em te tecer.
Quantos segredos eu já contei? Era pra ser um.
Só pra dizer que todo santo Antônio dia eu pego o celular pra te mandar mensagem!
Na mesma hora me lembro: não tenho o número.
Mas você está tão aqui que parece ao alcance da mão.
E levanto o braço, e aceno ao vento. E nada de você.
Mas se você estender a mão encosta em mim.

quarta-feira, julho 11, 2012

Enquanto eu estiver aqui

Nos dias em que lembro de você o mundo fica mais cinza.
Você passou e floriu tudo, solarizou todo o nosso breu.
E era tudo tão claro que qualquer nota se fazia desnecessária.
Exceto as notas de qualquer melodia sua.
Essas, soam até hoje.
Às vezes eu penso que você só está em mais uma viagem infinda.
(e não está?)
Às vezes me lembro de nossas conversas breves, nossos cafés na cozinha,
nossas praias...
Às vezes quase sinto você me acordar me arrastando pela casa, puxando o edredon...
Às vezes quase ouço a sua voz, seus passos.
E sempre, todos os dias, eu ouço seu sorriso e vejo seus olhos apertadinhos
mastigando cada "ha" da sua gargalhada.
É difícil lembrar que você se foi.
É difícil pensar que você se foi sem eu nem me despedir,
sem eu nem dizer tudo e tanto que você é pra mim.
E guardo toda dor o máximo que posso,
até implodir o peito e vazar os olhos.
E evito deixar que vejam, pra que não sofram, pra que não sintam, não consolem.
A dor não se consola.
Se consola a solidão, a dúvida, a dívida.
A dor não.
A dor se sente, se mastiga, se degusta até a última gota.
Porque quando ela passa é preciso lembrar como ela é. Pra não deixá-la vencer de novo.
Se ela vencer ou não, se eu vencer ou não.
Seu lugar ficará sempre vazio, esperando te encontrar de novo.
Meu amor estará sempre aguardando a sua volta.
Nas minhas vitórias e alegrias, faltará sempre um sorriso seu do lado de fora,
porque do lado de dentro você sorri pra mim todos os dias.
E enquanto eu existir, você existirá em mim.

Não posso dizer você

Sabe o que é lindo em você?
Esses olhinhos apertados.
O cabelo depois do vendaval.
Adoro esse cabelo de vento. Essa cabeça de vento.
Seu jeito de dançar sem música.
Morro dentro de mim.
Quando fecha os olhos e sente a música dançar em você...
Vivo dentro de mim.
Mas esses olhos...
São o que mais mexe comigo.
Atrás desse escudo de gladiador, há em você um menino lindo.
Além da sensibilidade, da beleza do ser, da leveza de ser.
Além da tristeza que embaça a visão. Além da dor.
Não entregue os pontos.
Somos todos meio tristes quando nascemos gente.
Não deixe ir o menino em você.
É um menino lindo.
Seu espelho só mostra o que está por dentro, eu sei.
E dentro da casca de melancolia, mora o menino,
e dentro do  menino a beleza que você conhece.
Mas no menino e na casca há a beleza que você  não vê.
Eu sei que não.
Quando sorri, seus olhos se apertam e brilham uma luz infinita!
Seu rosto todo floresce.
Seu corpo exulta em cores e tons. Há festa no mundo todo.
Ou, talvez, no meu mundo todo.

sexta-feira, junho 08, 2012

Está aí?

Pra onde foi o texto do post?
Aquele sorriso que se apertou pra não explodir?
Onde deixei as chaves do carro e a felicidade que não cabia aqui?
Cadê o casaco do ano passado?
Cadê as notas que dedilhava de cor?
Onde parou a receita do bolo?
Onde parou o plano maior?
Quem escondeu aquilo que sente?
Quem vomitou tudo na gente?
Quem viu passar o choro alheio?
Quem pôde ver além da própria dor?
E quanto ao troco perdido no passeio?
Quem se importa com o custo do amor?
Quem pode ver além do espelho?
E o tal respeito pelo próximo, quem foi que trouxe?
Como é que então se exige o meu?
Quem sabe olhar pra si e ver o que falta?
E ao mesmo tempo ver o bem no amigo seu?
Quem pode chamar de amigo de verdade
quem transpareceu uma falha?
E quem pode dizer que é preciso ser mais forte,
é preciso ser mais belo, é preciso servir mais e exigir menos?
Quem pode dizê-lo sem antes precisar ouvi-lo?
Pra onde foi o texto do post?

sexta-feira, junho 01, 2012

Dores e Penas


Há tempos essas dores vêm e vão.
Não há espaço, não caibo em mim.
A poucos minutos eu cabia naquela casca e agora eu mesma a quebrei.
Está em pedaços como tantas outras já estiveram.
E será que ninguém sentiu falta delas?
E será que ninguém pensou o que faria fora delas?
E o que fazer com sua casca em pedaços?
E o que fazer com os pedaços de mim?
Minhas penas crescem a cada dia.
Grandes penas. Duras penas!
E como dói crescer!
Dores e desamores por todos os lados.
Não há canto que não doa, não há pranto que me caiba.
As dores que se vão são dores que se esquecem de doer,
adormecem dentro em mim pra despertar em outro lado da nova casca que sou.
E as penas crescem.
Que serei? Quem serei? O que a vida vai fazer de mim?
Que pés são esses que apontam três caminhos adiante e o passado?
Que face é essa de olhos maiores e lábios voltados para baixo?
Quando passei a ver mais longe?
Quando passei a cantar mais alto?
E as penas crescem.
Quando minhas penas crescerem a ponto de eu não mais poder carregá-las, elas me carregarão.
Voarei pra longe de tudo isso.
E morrerei de saudades.
Voarei para longe de mim. Ou para longe do que fui.
Então talvez eu vire estória.
Ou talvez uma chama faça nascer algo das dores de mim.

terça-feira, abril 10, 2012

Um dia como o dia mais importante da minha vida


Ontem foi aniversário da minha primeira melhor amiga.

Não que um amigo possa ser mais importante que outro. (Pode?)
Mas esta amiga me fez amiga.
Se eu sou amiga de alguém aí (alguém? Alguém aí? Levante a mão para que eu veja!), é porque ela fez de mim amiga aos... 6 anos. Acho que sim. Dos 6 anos em diante.
Conversas, risos, audições, discussões, a desimportância de uma desavença e a importância de uma amizade. Se sei disso, é tudo culpa dela.
E, se eu não aprendi bem (ou nada) alguma coisa, briguem com ela por ter deixado a vida levá-la assim.
Quando a gente cresce o tempo encolhe.

Mas hoje (e ontem), é (e foi) como se fosse mais um dos infinitos dias que passamos conversando em cima das árvores do seu quintal, o dia parece ter voltado no tempo pra me lembrar o que realmente importa.
É preciso viver, trabalhar para viver, mas é preciso antes de tudo não recolher a âncora. Porque sem ela a gente vagueia sem rumo, se esquece do óbvio: o essencial.

Enfim, o aniversário do seu primeiro melhor amigo é um dia tão importante quanto o dia mais importante da sua vida. Porque só se é amigo quando alguém reconhece em você o potencial para sê-lo. E, mais do que reconhecer esse potencial, o amigo extrai de você todo o amigo que você pode ser. É um trabalho árduo, às vezes penoso, mas o amigo nunca desiste, porque ele sempre acha que você vale a pena.

Por essas e outras, uma salva de palmas à minha primeira melhor amiga, Ana Caroline Ferreira.

Parabéns pra ela =)



*Queria colocar uma foto nossa pra ilustrar, mas nao achei no pc, vou ter que procurar naquelas caixas sombrias de fotografias antigas e sinistras que toda família tem em casa.

segunda-feira, janeiro 02, 2012

Entre pampas e montanhas

Eu nunca entendi muito bem a relação entre mineiros e gaúchos. Verdade é que também nunca tinha atentado para ela.
Acontece que, há uns meses, encontrei uns bons amigos em Porto Alegre, que me fizeram lembrar outros bons amigos gaúchos (só que do interior).
O primeiro amigo que encontrei no Rio Grande do Sul "aconteceu" da mesma forma que todos os que lhe dariam sequência aconteceriam, quando eu ainda nem imaginava. Foi uma amizade tão óbvia, tão simples, que não foram necessárias muitas apresentações. Ficamos amigos e pronto.
Em Minas, "dois dedos de prosa" com um mineiro e ele te convida para a festa de aniversário dele, que será em casa mesmo, só "pros mais chegados". E o convite vem acompanhado de um "cê num repara não!" porque "é tudo muito simples".
No Rio Grande do Sul, em três minutos de conversa com um gaúcho, mais três deles aparecem pra oferecer "boas vindas" ao novo colega e curtirem um pouco o dialeto forasteiro do mais novo melhor amigo de infância dos quatro gaúchos.
Gaúchos e mineiros têm uma hospitalidade diferente das outras partes do Brasil, talvez aí more a afinidade entre vinhos e queijos.
Então inicia-se o estreitamento de laços. Como todo mundo sabe, o mineiro é desconfiado; sendo assim, aponta pontos turísticos que mais gosta em Minas e locais próximos aos que costuma frequentar, mas nunca os lugares onde, de fato, pode ser encontrado.
O gaúcho, por outro lado, não é desconfiado mas é turrão. Nada de locais e mapas, contatos diretos apenas virtuais, porém apresenta todos os membros da família, grupos de amigos e do trabalho. O gaúcho deve ser aquela figurinha que carrega fotos na carteira, antes de qualquer outra coisa.
Como pode-se ver, o mineiro e o gaúcho se preservam e se dispoem com a mesma intensidade. Ambos têm o coração esfrangalhado, porém duro na queda.
Perceba as formas que as palavras tomam nas bocas mineiras e gaúchas: Os dois dialetos fluem tranquilos, de vagar, deliciando-se em cada palavra reinventada, curtindo o silêncio após cada frase. As expressões "sumercado" em vez de "supermercado" e "tudibom" em vez de "tudo de bom" são comuns aos dois brasileiros. Palavras partidas, sem bordas, costuradas entre si. Coisa de quem precisa falar muita coisa. Então cortam-se os excessos, fica só o essencial (cerca de seis folhas frente/verso, prefácio e posfácio). Assim são mineiros e gaúchos.
Gente boa, gente do bem. Apreciadores das tradições regionais, mesmo que mínimos (ou nada) seguidores delas. Um mineiro pode até chegar ao cúmulo de não saber fazer pão de queijo, mas nunca nega apetite quando vê um (ou uma fornada). O mesmo acontece para o gaúcho e seu chimarrão.
Somos ativistas do "Make tea. Not war.", "Tá nervoso? Vai pescar!", mas cuidado: Mãe e futebol são sagrados. Perde-se a mansidão gaúcho-mineira se alguém desonrar estes doi tesouros.
E, por falar em mansidão, somos também "bem mansinhos" - expressão que, em Minas, diz de quem é terno, afável, se apega facilmente. Mineiros e gaúchos têm mais essa característica em comum: chegamos de vagar, de mansinho, ficamos amigos e, noutro instante, irmãos de sangue! Somos todos muito tratáveis (não tratantes, tratáveis!), muito dóceis. Talvez por isso a hospitalidade e a graça de ambos.
Enfim, acho mesmo que um antepassado comum poderia ter perdido um dos filhos na viagem, ou mandado para longe, para um parente distante criar. Assim parte da família foi morar em Minas e outra parte no Sul. Seria uma ilustração legal pra justificar a empatia que temos. Pampas e montanhas são muito diferentes! Nenhuma justificativa realista poderia explicar essa identificação.
Diferenças? Temos aos montes! Mas não vim falar delas.
Há, sem dúvida, muitas outras semelhanças, mas este post precisa ter fim (e tentar não ser um livro. Pelo menos não, por enquanto).
Seria exagero dizer que mineiros são gaúchos montanhenses? E que gaúchos são mineiros bordados de ouro (das Minas!) e azul? É, seria. Seria sim. Mas acho que tudo bem, também temos fama de exagerados.


Para meus queridos Paula Berlowitz, Ricardo Cury, João Textor (Johnzinho \o/) e demais amigos de Carazinho e do La Fiorentina POA, com carinho.