quarta-feira, outubro 01, 2014

Troca de pedidos

Eu adoro confundir as pessoas.
O auto exorcismo faz de mim muito mais frágil do que eu gostaria.
E é por isso que invoco todas as metáforas e referências possíveis.
Não sei dizer sem elas.
Ser subjetiva é uma delícia.
Eu amo saber que você não vai me entender.
E amo saber que você acha que está me entendendo sem nem ter ideia do que se passa.
Adoro quando morde uma isca (falsa) que fingi ter deixado cair sem querer.
Me divirto na corda bamba das minhas próprias entrelinhas.
Sim, vez ou outra preciso deitar na cama que fiz. Sou a primeira vítima de minha própria sombra. Mas no fim das contas vale a pena. Aprendi a fazer esse cálculo de cabeça e já tenho uma poupança considerável neste sentido. Eu amo minha subjetividade. E amo saber que ela te irrita e te intriga. E amo saber que você pode ler isso todos os dias e vai continuar pensando que é com você que eu falo. Será? Eu vou continuar escrevendo e usando todos os temperos que parecem mas não são. E você vai continuar pensando que o banquete é pra você quando não for. E quando for, outra pessoa vai se assentar pra comer pensando ser o prato dela. Bom apetite.

sábado, setembro 27, 2014

Limoeiro

Tinha cheiro de limão quando te vi de verdade.
E talvez seja sempre assim...
Quem te vê em cascas amarga o gosto de não saber você.
É feio, é bravo, a gente pensa que não vale a pena.
Mas qualquer coisa em mim escolheu te olhar mais um pouco.
Me assentei como se assentam os casais em baixo dos ipês. E até você se perguntou o que eu pretendia conseguir sentada ali.
Eu só queria te ver.
E eu te vi.
De vento em vento você abria rapidamente seus galhos fortes de folhas densas. Eu te via de relance.
Ainda vejo assim.
Assentei-me e não pretendo me erguer.
É um orgulho me assentar aos seus pés.
Porque eu escolhi gostar de limões.
E um dia, sem que eu pudesse prever,
você me exalou seu perfume tão docemente que o amargo e a dor puderam se acalmar.
Foi breve e o limão já amarga novamente.
Mas nunca mais como antes. Há sempre um pouco de doce no amargo das coisas.
E o aperto do limão agora alarga.
É um privilégio me assentar à sua sombra e saber-me no lugar que me cabe e entender limites e horizontes que você me traçou e o infinito de possibilidades que me abriu.
Obrigada por isso.
Tem cheiro de limão por todo lado, tem dedo de limoeiro em todo canto.
E em todo canto tem o som do vento te penteando... E vai ser assim sempre.

segunda-feira, setembro 08, 2014

Canto da caixa

É, eu queria te falar umas coisas.
Assim... algumas delas talvez te façam bem, outras certamente você dispensa.
Mas são verdades minhas.
Uma delas é que você faz muito bem a quem está perto. Mais do que você pensa. Outra é que você também faz muito mal. A si e a quem está perto. Mas é um mal bem diferente do que você pensa.
Sua autoimagem me incomoda bastante. Até porque ela te faz ter uma imagem dos outros bem pior do que deveria ser.
Eu vejo dor, eu vejo muita dor onde você pensa não mostrar nada. Irresponsabilidade onde você não pensa ter; proteção, cuidado e culpa onde você pensa ser irresponsável. Rs acontece.
Por ironia do destino a gente não pode esconder tudo o que é. E, por sacanagem mesmo o destino faz pessoas lerem a gente. Acontece.
Não se culpe por isso. Nem a mim, por favor. Você sabe que eu não tenho culpa.
Tanta coisa... Eu não quero te despir, mesmo te vendo sempre nu, eu quero te deixar à vontade pra se despir ou se vestir o quanto queira. E é por isso que eu guardo tanta coisa. Porque eu respeito o seu direito de ser ou não ser, de ir e vir. E gosto de ser assim mesmo que você não saiba. Às vezes você me irrita a ponto de me fazer desejar te explodir em verdades e te fazer uma porção de carne inerte no chão. Mas aí eu volto a mim. Não me leve a mal, eu não quero basear meus atos pelos seus. Não quero ser vítima do meu próprio troco. Não quero que minha reação dependa da ação de ninguém. Até hoje eu consegui fazer isso com você. Desvincular minhas respostas e reações das suas, não depender do seu humor para lhe ser cordial ou crua. Isso é uma evolução enorme em mim. Mas enfim, não estou aqui pra falar de mim.
Ah, tem uma coisa que você vai adorar!
Você me surpreende quase sempre.
Eu disse quase.
Algumas vezes você é bastante previsível!
Mas outras não. Eu vejo um bem em você, assim, do nada, tão seu e tão inerente que você nem nota. E gosto de olhar pra esse bem em você e cumprimentá lo. Costuma ser breve, sua benevolência não é aparecida como você, por isso é legal encontrá-la. E ela me acena, nos reverenciamos e ela se vai. É breve, às vezes é até inoportuno, mas é sempre bom vê-la. Ah, o menino eu também vejo! Mas esse eu vejo sempre. Sempre e em tudo. Todas as partes de você transbordam um menino bem pequeno e frágil. Ele não é sabe que eu o vejo, nem sabe que aparece, mas é melhor assim. Gosto de vê-lo sem que ele me veja. Às vezes da vontade de te contar que o vi, que ele está lá e quer sair pra brincar e rir com a gente. Mas é melhor não. De qualquer forma ele brinca e ri com a gente, só que vocês dois não sabem que eu sei. Enfim... As coisas que você não vai querer saber eu vou guardar aqui na caixa de mim. É mais seguro. Também já estou chegando no trabalho, não daria tempo pra divagar a respeito. A gente se vê por aí.

Reescrita. Releitura.

Há muito quero reescrever como antes.
Há muito!
Deveria ter-lhe invocado antes.
O senhor, velho e querido Braga, traz à superfície de mim o que um dia achei nos seus livros. Fragmentos do meu melhor eu, escravo das palavras.
É que isso está me matando, poeta!
E me matando por não me matar!
Me incomoda não morrer por isso.
Me incomoda não matar por isso.
E o que há de ser então?
Que graça tem a vida se a gente não morrer de amor?
E que graça tem ser amado se não matar de amores?
É que não é aquele amor. E não era mesmo pra ser. E que graça tem então?
Sabe, poeta, ele acha que me matou. Mas não.
E eu pensei que o mataria. Não sei ao certo, mas acho que não.
É por aí, poeta. É bem por aí o que me mata. Mas estou aqui, vivinha! Porque o quase não mata ninguém.
E de quases o mundo já anda saturado!
Que graça tem quase amar?
Quase ser amado... Quase matar, quase morrer... Quase viver... Quase é muito entediante! Até escrever: quase - quase dá sono! Que grande merda deve ser viver de quases!
Eu gosto assim, poeta, como o senhor!
Total e completamente inteiro.
É tudo! Ou não é e pronto.
Sem pseudopoesia barata. Sem quase.
Poeta, vou parar aqui. Texto grande é muito chato. Ligo mais tarde pra retomar. Vamos tomar um café qualquer dia! Eu sinto a sua falta, poeta. Sinto muito.

quinta-feira, agosto 28, 2014

Múltiplas escolhas

Ouça o que lhe digo
porque quem avisa amigo é:
Essa dependência vai te matar qualquer dia.
Você não se move, não se atreve nem se ilude.
Vive crendo que a vida vai ser sempre a mesma coisa.
Mas a vida já não é mais a mesma,
nada fica no lugar onde foi posto.
E os passos que você deu não parecem ser seus.
Tudo bem não saber pra onde vai,
caminhar já é um bom começo
e na estrada você escolhe o destino.
Mas o que parece, meu amigo,
é que você vai ser sempre isso aí;
sempre a mesma pedra parada à beira do caminho.
Quanto você caminhou até hoje?
Sozinho. Por si só.
E quanto, meu amigo, você ajudou alguém a simplesmente ir?
Você se satisfaz com muito pouco.
Qualquer mais ou menos está de bom tamanho.
E quando a gente pensa que se move...
Vê que só levantou pra se coçar... Já voltou pro lugar!
Vai ser assim pra sempre?
Vai morrer onde está?
Vai escorar a vida num alguém ideal a vida toda?
E quando descobrir que ideais não existem, vai fazer o quê?
Digo, naturalmente, esperando que faça algo.
Mas sei que é bem provável que não faça nada.
Isso realmente me preocupa.
Alguém que não tem nada a acrescentar.
Digo, tudo bem nascer sem acrescentar nada. - todo mundo nasce assim -
Mas depois de nascido ter algo a somar é opção.
E você opta todo dia pelo não.

sábado, agosto 23, 2014

Sobre dúvida e certeza

Você deve pensar melhor a meu respeito.
É bem possível que eu seja sempre assim, indecisa sobre a vida e sobre o mundo.
Sem certeza de mim... Imagine de você!
Eu vou ser sempre um poço de contradições,
amor e ódio sem perdão.
Eternidade e finitude em cada parte de ser.
E talvez (e provável) eu te faça mal.
E você não merece isso.
Merece a constância e a serenidade de você.
Merece ser feliz a todo e qualquer custo.
E tem a obrigação de ser vo
cê, de se descobrir, de se encontrar e se conhecer.
Coisa que você parece não querer. Mas deveria.
Você vai se encantar consigo.
Pense melhor a meu respeito.
Duvide de mim em todo caso.
Questione se represento tanto assim.
Vai descobrir que não.
Vai saber que sou do tamanho que você me faz.
E vai saber que às vezes te faço pequeno demais.
Porque eu sou assim, duvido de mim e do mundo o tempo todo.
Não tenho certeza de nada. Nem da dúvida!
Não posso ser o que você quer, porque preciso ser o que preciso.
E eu definitivamente não sei o que eu preciso.
Pense melhor a seu respeito.
Você é muito mais inteligente do que a vida que tem levado.
Pense melhor a meu respeito porque talvez seja sempre assim.
De tempos em tempos tudo começa a rodar
e outras variáveis entram na roda
e outros olhos e outros meios e outros talentos
e de repente meu estômago se embrulha!
Se apronta todo pra partir e você aí, andando em círculos.
Acho que deve pensar melhor.
Questionar a si e à vida.
É possível que não tenha nenhuma resposta,
mas ter as perguntas já vai ser um passo e tanto!
Me assusta essa sua fé incondicional em mim.
E se eu morrer? E se eu partir?
Você vai morrer atrás de mim?
E quando eu quiser ouvir alguém?
O que você vai ter a dizer?
Porque agora, quando quero ouvir alguém, não é você quem fala.
E não fala porque não tem o que dizer.
E não tem o que dizer porque não se enche de palavras.
E saco vazio não para em pé.
E você e eu sabemos muito bem que você adoraria ter o que dizer.
Enfim... Vou me calar.
Mas pense bem. Duvide de mim e talvez então eu tenha uma certeza.

segunda-feira, agosto 11, 2014

Bilhete sobre a cômoda

Agora sua dor começa a te encontrar...
Eu bem que te avisei que ela viria.
E juro que não fiz nada, não antecipei sua chegada nem me esforcei pra isso.
Só estou dando tempo ao tempo
E no tempo dela ela começa a aparecer lá longe.
E no tempo dela ela começa a desatinar em você, te fazer saber que ela vem e é toda sua.
Eu bem que não queria isso.
Você sabe que não.
E você bem que se aplicou a me jogar pra longe sem nem sonhar que estava mesmo era trazendo a dor pra dentro de você.
Agora ela já vem, está quase aqui e eu quase lá.
Eu avisei que seria assim.
Mas você nunca se importou em me ler direito.

quinta-feira, agosto 07, 2014

Previsão do tempo pra daqui a pouco

A verdade é que tudo dói por você
Mas eu vou conseguir
Você vai ver
E vai lamentar em mim
Vai querer voltar no tempo e me guardar no abraço

Morro todos os dias
E com tudo isso agora
Morro mais a cada instante
E vou morrer até o fim.
Vou morrer assim e ficar inerte.
Você vai sentir.
Vou morrer nós dois sozinha.
Vou me matar pra morrer você.
Mas vou ressurgir
E você não.

Serei novamente apenas eu.
E você vai sofrer a sua morte.
E vai desejar ter estado lá pra impedir.
E vai morrer em si por me ver tão eu.
Vai me ver como sou, como sempre fui, sempre eu.
E vai morrer por dentro querendo estar comigo.
E vai ser tarde demais pra você.
Pra mim vai estar só começando.