quarta-feira, dezembro 13, 2006

Crônica confusa


Palavras são coisas que usamos para expressar o abstrato.
Abstrato é tudo o que não se pode ver nem tocar, mas costuma ser mais real do que aquilo que chamamos de concreto.
Acontece que somos seres tão estranhos... Complicamos tanto e tudo!
Assim as palavras tornam-se lãminas afiadas contra o externo, o abstrato é esquecido em qualquer esquina e o concreto passa a ser massa de manipulação humana.
Isso quando fazemos o favor, ao mundo, de nos comunicar!
Porque, não raro, simplesmente paramos. Sumimos.
Acabou.
Não dizemos nada, não damos sinal de vida e o mundo que se vire e descubra o que queremos, pensamos, sentimos...
As vezes nos faltam palavras! O abstrato fica ali, pairando sobre aquele momento com um vento quente (mas fresco)! Nem precisam palavras!
E como é bom!
Outras vezes sobram palavras e o abstrato confunde-se no vão de tantos concretos! Que peso o ar fica! Parece não acabar nunca!
Vinícius estava correto. Se fôssemos apenas partículas tudo seria tão mais simples!
(03.11.06 - Todos os direitos reservados)

À uma tulipa cor-de-rosa


Neste momento há um alguém especialmente triste. Perdas que todo mundo tem... Mas me dói saber que alguém tão doce sinta um gosto tão amargo.
Que é que posso fazer, flor? Não posso sequer dar-te um abraço onde possas enterrar teu pranto.
Se pudesse, eu bem que lhe colava um sorriso ao rosto...
Ruim perder pessoas preciosas. Bem sei como é isto.
Mas você talvez esteja a olhar o mar ou à janela, nesta noite, como quem busca na chuva alguém que foi e não voltou.
Talvez já lhe tenham entretido ou talvez uma festa tenha se acabado...
Em teu rosto, sempre tão transparente, há os traços de um vazio melancólico e cinza.
Hoje é feriado. Há pessoas passeando por todo lado e táxis rodando toda a cidade, há um roubo, com certeza e há descanso em alguns lares.
Mas em teu interior há chuva. Dessas que suspendem as aulas!
Sim, dessas que lhe mandam dormir sem dizer "boa noite".
Dessas chuvas para o doente ficar bem quieto que já vem um chá quentinho!
Aquieta-te, flor! Embala-te numa manta e descansa tua alma, que aqui vão umas palavras para teu coração ficar bom.
(02.11.06 - todos os direitos reservados)