sábado, setembro 27, 2014

Limoeiro

Tinha cheiro de limão quando te vi de verdade.
E talvez seja sempre assim...
Quem te vê em cascas amarga o gosto de não saber você.
É feio, é bravo, a gente pensa que não vale a pena.
Mas qualquer coisa em mim escolheu te olhar mais um pouco.
Me assentei como se assentam os casais em baixo dos ipês. E até você se perguntou o que eu pretendia conseguir sentada ali.
Eu só queria te ver.
E eu te vi.
De vento em vento você abria rapidamente seus galhos fortes de folhas densas. Eu te via de relance.
Ainda vejo assim.
Assentei-me e não pretendo me erguer.
É um orgulho me assentar aos seus pés.
Porque eu escolhi gostar de limões.
E um dia, sem que eu pudesse prever,
você me exalou seu perfume tão docemente que o amargo e a dor puderam se acalmar.
Foi breve e o limão já amarga novamente.
Mas nunca mais como antes. Há sempre um pouco de doce no amargo das coisas.
E o aperto do limão agora alarga.
É um privilégio me assentar à sua sombra e saber-me no lugar que me cabe e entender limites e horizontes que você me traçou e o infinito de possibilidades que me abriu.
Obrigada por isso.
Tem cheiro de limão por todo lado, tem dedo de limoeiro em todo canto.
E em todo canto tem o som do vento te penteando... E vai ser assim sempre.

segunda-feira, setembro 08, 2014

Canto da caixa

É, eu queria te falar umas coisas.
Assim... algumas delas talvez te façam bem, outras certamente você dispensa.
Mas são verdades minhas.
Uma delas é que você faz muito bem a quem está perto. Mais do que você pensa. Outra é que você também faz muito mal. A si e a quem está perto. Mas é um mal bem diferente do que você pensa.
Sua autoimagem me incomoda bastante. Até porque ela te faz ter uma imagem dos outros bem pior do que deveria ser.
Eu vejo dor, eu vejo muita dor onde você pensa não mostrar nada. Irresponsabilidade onde você não pensa ter; proteção, cuidado e culpa onde você pensa ser irresponsável. Rs acontece.
Por ironia do destino a gente não pode esconder tudo o que é. E, por sacanagem mesmo o destino faz pessoas lerem a gente. Acontece.
Não se culpe por isso. Nem a mim, por favor. Você sabe que eu não tenho culpa.
Tanta coisa... Eu não quero te despir, mesmo te vendo sempre nu, eu quero te deixar à vontade pra se despir ou se vestir o quanto queira. E é por isso que eu guardo tanta coisa. Porque eu respeito o seu direito de ser ou não ser, de ir e vir. E gosto de ser assim mesmo que você não saiba. Às vezes você me irrita a ponto de me fazer desejar te explodir em verdades e te fazer uma porção de carne inerte no chão. Mas aí eu volto a mim. Não me leve a mal, eu não quero basear meus atos pelos seus. Não quero ser vítima do meu próprio troco. Não quero que minha reação dependa da ação de ninguém. Até hoje eu consegui fazer isso com você. Desvincular minhas respostas e reações das suas, não depender do seu humor para lhe ser cordial ou crua. Isso é uma evolução enorme em mim. Mas enfim, não estou aqui pra falar de mim.
Ah, tem uma coisa que você vai adorar!
Você me surpreende quase sempre.
Eu disse quase.
Algumas vezes você é bastante previsível!
Mas outras não. Eu vejo um bem em você, assim, do nada, tão seu e tão inerente que você nem nota. E gosto de olhar pra esse bem em você e cumprimentá lo. Costuma ser breve, sua benevolência não é aparecida como você, por isso é legal encontrá-la. E ela me acena, nos reverenciamos e ela se vai. É breve, às vezes é até inoportuno, mas é sempre bom vê-la. Ah, o menino eu também vejo! Mas esse eu vejo sempre. Sempre e em tudo. Todas as partes de você transbordam um menino bem pequeno e frágil. Ele não é sabe que eu o vejo, nem sabe que aparece, mas é melhor assim. Gosto de vê-lo sem que ele me veja. Às vezes da vontade de te contar que o vi, que ele está lá e quer sair pra brincar e rir com a gente. Mas é melhor não. De qualquer forma ele brinca e ri com a gente, só que vocês dois não sabem que eu sei. Enfim... As coisas que você não vai querer saber eu vou guardar aqui na caixa de mim. É mais seguro. Também já estou chegando no trabalho, não daria tempo pra divagar a respeito. A gente se vê por aí.

Reescrita. Releitura.

Há muito quero reescrever como antes.
Há muito!
Deveria ter-lhe invocado antes.
O senhor, velho e querido Braga, traz à superfície de mim o que um dia achei nos seus livros. Fragmentos do meu melhor eu, escravo das palavras.
É que isso está me matando, poeta!
E me matando por não me matar!
Me incomoda não morrer por isso.
Me incomoda não matar por isso.
E o que há de ser então?
Que graça tem a vida se a gente não morrer de amor?
E que graça tem ser amado se não matar de amores?
É que não é aquele amor. E não era mesmo pra ser. E que graça tem então?
Sabe, poeta, ele acha que me matou. Mas não.
E eu pensei que o mataria. Não sei ao certo, mas acho que não.
É por aí, poeta. É bem por aí o que me mata. Mas estou aqui, vivinha! Porque o quase não mata ninguém.
E de quases o mundo já anda saturado!
Que graça tem quase amar?
Quase ser amado... Quase matar, quase morrer... Quase viver... Quase é muito entediante! Até escrever: quase - quase dá sono! Que grande merda deve ser viver de quases!
Eu gosto assim, poeta, como o senhor!
Total e completamente inteiro.
É tudo! Ou não é e pronto.
Sem pseudopoesia barata. Sem quase.
Poeta, vou parar aqui. Texto grande é muito chato. Ligo mais tarde pra retomar. Vamos tomar um café qualquer dia! Eu sinto a sua falta, poeta. Sinto muito.