quarta-feira, julho 27, 2011

Coisas que as mães sabem (tudo)


Mãe, quanto a gente chora até dormir?
E quanto dói não ter você?
Como se olha doce como você faz?
Como se entende o mundo sem precisar ouvi-lo?
Me diz, por favor, porque eu preciso saber, mãe.
E você sabe de tudo, não é, mamãe?
Você sabe assoprar o dodói como ninguém!
Por dentro ou por fora, o dodói vai embora quando você chega.
Quando você chega, mamãe?
Como faz pra ser linda sempre?
Como faz pra sofrer e ser forte?
Como faz pra saber que eu vou ser feliz?
Mãe, me diz, por favor, que eu preciso saber.
E você sabe de tudo, não é, mamãe?
Como você sabe fazer tudo melhor que todo mundo?
Por que é que o seu colo só não sara a sua dor?
Por que é que você tem tanto amor?
Por que é que a gente treme quando entra no cobertor?
Me diz, mãe, porque eu preciso saber.
E você sabe de tudo, não é, mamãe?
Todo mundo sabe disso.
Todo mundo sabe que toda mãe sabe muito mais que o mundo inteiro.
Mas você já sabia disso, porque
você sabe de tudo, não é, mamãe?

imagem: Google

quinta-feira, julho 14, 2011

Dois em um


Hoje vou falar do poeta.
É preciso entender o poeta.
Não somente este, nem aquele,
nem meus poetas favoritos.
Falo do gênero poeta.
O poeta deixa de ser homem quando poetiza.
Deixa seu corpo mortal, seus defeitos e vira poesia pura.
Somente alma.
A dor e a delícia não o deixam.
O que está na alma do poeta, o que quer que seja,
não desprende-se dele como o corpo.
E é na alma onde habitam a dor e o gozo,
as lembranças, o amor,
a esperança e, de novo, a dor.
Poeta poetizando é alma que se pena a ensinar,
mesmo sem querer ou saber.
Por isso todas as almas se rendem ao verso.
Poeta em poesia não é homem, não tem defeitos,
nem erros, nem caráter bom ou mau.
É apenas poeta, apenas poesia.
O bem e o mal se rendem à condição de poeta.
Aguardam sua alma retornar ao corpo.
Por isso alguns (ou todos os?) poetas
pranteiam seus desamores nas linhas das mãos e,
quando prendem-se novamente ao corpo,
são amados egoístas, desatentos ao amor e ao amar
- são de novo gente.
É preciso perceber o poeta
em poesia e em carne.
Dar a ele o tempo e o espaço necessários
para ser inteiramente os dois (quase) extremos.
Então o poeta terá lugar no Universo
e alguém terá, enfim, amado plenamente um poeta.

Imagem: Google

quarta-feira, julho 06, 2011

Tolice querer


Eu tento sempre fazer algo brilhante
porque você é sempre assim
A luz que tanto fala e tanto espalha
ofusca tudo em mim
E quero ser o que você precisa, o bastante
pra sermos tudo em dois, história rara
Eu quero, sim, pensar em nós
pensar que você pensa em mim
que somos o belo do simples
que o resto do mundo nos deixe a sós
Então percebo a tolice em meu peito
palavra, bobagem, besteira e dor
quem não quer ter esse direito
e viver todo amor que você dispor?
O mundo corre atrás do seu sorriso
todas querem um cantinho de você
E volto a pensar no seu brilho, seu paraíso
caneta e papel pra amarrar meu querer.

Entranhas dores


Todos aqueles olhares, tanta palavra não dita
você se desfez em mim como não se deve fazer.
Você diz tanta dor que sofre
e conta em canto os males que lhe afogam o peito
Mas levanta contra o mundo sua tempestade
Se sente tanta pena de si,
por que não pensar na dor que causa?
Tanta gente morrendo afogada
na sua insensatez
sua chuva e seu abrigo
seu frio e cobertor
seus olhos amargos não atentam pra isso.
Porque não os abre nem quer saber.
Só quer saber seus ais e seu talento.
Seu orgulho imundo por ser quem é:
Um ser humano maravilhoso
que não faz ideia de quão medíocre homem
esconde em suas entranhas

segunda-feira, julho 04, 2011

Naturalmente


Como dizer que te amo
se amar você é tão natural?
Só me restam os clichês a dizer
seus olhos que brilham,
sua beleza incomum,
seus ombros, seus braços,
seu peito e sua dor.
Eu nada tenho demais.
Nada que você já não saiba.
O que você não sabe é o que sou
além dos clichês que me cobrem.
O que você não sabe é que
além dessas linhas patéticas
eu sirvo sim
direitinho em você.
Você é que não serve pra mim.
Mas que importa tudo isso, afinal?
Você nunca saberá disso.
Porque nunca saberá de mim,
nem quem sou, nem do amor.
Restam-lhe meus clichês.
Logo, os clichês são o que nos resta.
O que nos une e o que nos aparta.
Entre tudo o que temos em comum
o que vemos e veremos é apenas os clichês.
Julgue-me ou desconsidere-me por eles.
Desconsidera-me.

imagem: Google