terça-feira, agosto 19, 2008

Aquele jardineiro


Algumas mazelas de maus tratantes nos fazem pensar a vida inteira.
Eu ontem estive à beira do escuro e, sem perceber, acendi a luz.
Um certo bonsai esteve em perigo, e de alguma forma eu sabia disso.
Mas eu mesma não cri que nada acontecesse, mas que a vida segue por si sem nada para sofrer.
E algumas palavras ditas ao mesmo tempo preservaram meu pequeno jardim.
As sombras estavam a assombrar, mas nada puderam diante dos olhos de meu jardineiro.
As metáforas são mais fortes que eu, dominam minhas mãos o tempo todo.
Mas o que quero dizer é que meu jardim foi plantado, regado e tem sido fielmente cuidado pelo maior jardineiro de toda a História.
Depois de perceber que tamanho perigo correu meu jardim me desfiz como geléia e chorei todo o alívio de uma dor eterna antes mesmo que ela doesse. Alívio de ter este jardineiro por perto, fiel e atento, maior e melhor do que eu. Sim, ele estava lá cuidando de tudo a meu favor, zelando para viver meu jardim e me fazer sorrir.
E então as sombras se foram, assim como vieram, com o vento da noite morna.
E só me dei conta ao amanhecer, quando o sol brilhava sobre o jardim intacto, perfeito, guardado pelo maior jardineiro.
Como disse, chorei baldes pelo alívio de não perder o jardim. Mas o jardineiro me falou com voz suave e me acalentou num abraço. Meu jardim está a salvo.
Senti-me como aquele dia em que uma mulher foi a um sepulcro chorar seu mestre morto e o mesmo jardineiro lhe chamou pelo nome.