sexta-feira, agosto 24, 2007

Desarmônica


Eu ontem estive andando por essas ruas entrelaçadas da cidade.
Ruas cheias de dúvidas, de curvas, de pessoas com mentes vazias.
Engraçado como ares têm o estranho e fascinante poder de me assombrar.
Há tempos me esqueci, voei com a alma pela terra e segui respirando calmamente. Ontem o vi.
Estava a viver como todos e qualquer um, seguindo seu ritmo.
Sorriu a um e brincou com outro entre passos e papéis.
Me vi diminuir, quase sumi. Senti atabaques à minha volta, cantores de Rock de um lado para o outro em meus ouvidos, quebrando tudo o que havia lá dentro. Estava dentro de um Kamikase, ou uma Montanha-Russa invertida e cheia de lupes.
Não o vi de susto, senti seus passos.
O pobre Braga não teve escolha, começava a narrativa e eu interrompia, virava o rosto, cruzava as pernas... Se recomeçava de onde parou eu me perdia, viajava no ambiente e tinha que reler todo o parágrafo! Fechava e abria o coitado sem dó nem piedade. Troquei o livro, precisava de meu amado, Vinícius derramaria algum bálsamo sobre mim. Mas ele não estava. Não saiu comigo ontem.
Drummond ofereceu-me humildemente sua boa vontade. Aceitei como falta de opção, com um sorriso mais laranjado que amarelo. Não adiantou. Eu tinha um maremoto por dentro, como se Beethoven quisesse tocar sua nona sinfonia ali, dentro de mim.
Imagine um gênio surdo e eufórico. O próprio Beethoven, em uma de suas tempestades melódico-pessoais (a expressão não existia, mas passou a).
Assim estive ao vê-lo em sua simples obrigação natural de viver uma quinta-feira.
O mundo começou a girar para o outro lado mas eu só tive competência para retomar meu querido Braga conforme a cínica melodia automática conduziu meus movimentos, fazendo-os desavisados com um toque sem graça e fútil de desconhecer.