quinta-feira, maio 15, 2008

Indícios de amar você


Numa manhã comum amanheci com certa reticência na alma. Não havia nada errado, nada especial. Percebi que o dia frio não me esfriava e uma melodia cantarolava dentro de mim.
Levantei, trabalhei, almocei normalmente. A vida não pára só pelo encanto do vento.
Notei suspiros no escorrer do dia, sorrisos bobos soltos por mim.
Havia sorrisos em todas as coisas, porque tudo estava bem demais!
E nada havia que me aborrecesse, nem me cansace, nem me doesse.
Lembranças chegavam com expectativas futuras, tudo se mistura neste estado da alma.
E todo mundo era tão lindo, tão menino, tão singelo de se ver! Eu não liguei pra nada o dia inteiro, não morri de amores, nem de dores, nem vi nascer, nem morrer ninguém.
Falavam comigo e eu não respondia, insistiam e eu soltava um "aham" pra acabar o assunto.
Pensar em você era uma saudade enorme, imensurável, cansada de esperar o tempo que não passa! E então virava uma agonia, um nó no peito, um pássaro querendo voar... Reprimido, escondido, preso na gaiola do ser.
E a vida correndo atrás do tempo, e o tempo atrás da morte, e a morte atrás de mim.
E eu nem notei! Era tanta coisa pra ver naquele dia, seu rosto invadindo minha mente o tempo todo, sem se cansar de aparecer pra mim.
Até você chegar e conversar, e falar, e ouvir e ser apenas você. E eu, mais uma vez sem prestar atenção no óbvio, apenas lendo os escritos do tempo, juntei num momento os indícios que me perseguiram o dia inteiro. E achei que eles, somados a você traziam o verbo amar de novo em mim.
Descobri que te amava assim, meio sem querer, pelos indícios de mim num dia comum. Não pude evitar e a culpa é toda sua.
E o medo me apareceu num susto! Calei a verdade até onde pude.
Mas não pude ir muito longe. Sei lá, o tempo abriu a gaiola para amar você. E o pássaro pôde enfim se aquietar, e uma árvore começa a crescer sem medo, querendo apenas ver você sorrir à sombra dela.