sábado, setembro 27, 2014

Limoeiro

Tinha cheiro de limão quando te vi de verdade.
E talvez seja sempre assim...
Quem te vê em cascas amarga o gosto de não saber você.
É feio, é bravo, a gente pensa que não vale a pena.
Mas qualquer coisa em mim escolheu te olhar mais um pouco.
Me assentei como se assentam os casais em baixo dos ipês. E até você se perguntou o que eu pretendia conseguir sentada ali.
Eu só queria te ver.
E eu te vi.
De vento em vento você abria rapidamente seus galhos fortes de folhas densas. Eu te via de relance.
Ainda vejo assim.
Assentei-me e não pretendo me erguer.
É um orgulho me assentar aos seus pés.
Porque eu escolhi gostar de limões.
E um dia, sem que eu pudesse prever,
você me exalou seu perfume tão docemente que o amargo e a dor puderam se acalmar.
Foi breve e o limão já amarga novamente.
Mas nunca mais como antes. Há sempre um pouco de doce no amargo das coisas.
E o aperto do limão agora alarga.
É um privilégio me assentar à sua sombra e saber-me no lugar que me cabe e entender limites e horizontes que você me traçou e o infinito de possibilidades que me abriu.
Obrigada por isso.
Tem cheiro de limão por todo lado, tem dedo de limoeiro em todo canto.
E em todo canto tem o som do vento te penteando... E vai ser assim sempre.