sexta-feira, junho 29, 2007

Se os olhos falassem


Ah, como o mundo seria mais transparente se os olhos falassem!
Imagino um amor de repente desabafado, posto para o mundo ver, caso os olhos falassem.
Vejo na rua pedidos sinceros de carinho e atenção, do lado de fora dos vidros fechados.
Vejo mágoas e rancores descobertos num piscar, se os olhos falassem.
Vejo mentira e maldade avançarem nas pessoas caso os olhos falassem.
E vendo por este ângulo, viveríamos perigosamente se os olhos falassem!
Mas pelo sim, pelo não, seríamos, quem sabe, menos tristes, menos reprimidos em nosso mundinho. Simplesmente porque os olhos falariam!
O mundo, com certeza, haveria de dar um jeito, achar lugar para tantos olhos discursivos; mas depois de algum tempo tudo estaria nos conformes.
Então chego no ponto ao qual me propus pensar sobre.
Além das confusões causadas, das mentiras desmentidas e entrando até na casa dos verdadeiros desejos expostos, estaria o amor oculto.
E não só ele, mas a fraternidade, o respeito e o carinho, muitas vezes ocultos dentro de um sem que outro sequer tenha idéia.
Mas permita-me reter os holofotes neste primeiro.
O amor oculto.
Me remete a "amigo oculto"!
E, se mais que falar, os olhos fizessem amigo oculto!
Ah, eu lhe daria uma enorme
  • Caixa de Momentos
  • !
    Com beijos e abraços eternos, votos de sorriso e gargalhadas, de sorvete, chocolate e suspiro.
    Livros e CDs, casos engraçados e bons filmes.
    Mas voltemo-nos apenas às falas dos olhos.
    Que diriam os seus?
    Os meus diriam uma ansiedade imensurável e uma vontade de me esconder... Balbuciariam algumas rôtas e avulsas palavras de amor... Se fechariam. Meus olhos, com certeza, se fechariam!
    Mas se então você quisesse, de todo o coração e com seus olhos perguntasse que é que eu diria...
    Ah... Então meus olhos lhe fariam livros e mais livros de pupilas incasáveis. Bem-querer e saudade abririam minhas pálpebras com tanta vontade!
    Saudades, saudades apertadas de você, medo, receio, timidez, beijos e abraços pulariam dos meus olhos com tanta pressa, tanta vivacidade, que atropelariam a rejeição e o desconhecimento de seu olhar.
    E então eu te olharia com certa interrogação na íris, tentando ler o que se passa em sua nascente de palavras.
    Que é que se esconde nestas castanhas?
    Mas seus olhos parecem tão óbvios...
    Ou desconhecem os meus ou não fazem caso.
    Por isso sinto-me vermelha, querendo apagar todas as frases acima.
    Mas que podem as mãos diante das palavras escritas pelos olhos?
    Então, olhos meus, digam ao mundo que volte ao normal! Que cada olho apenas veja a enorme capa que esconde almas viventes e só a boca disposta diga.
    E me lembro de Toquinho, velho amigo de meu amado Vinícius, que por vezes cantou "Ah, se eu pudesse entender o que dizem seus olhos!"
    Mal sabemos nós que é que queremos, Toquinho... Mal sabemos...